môa, mó, mama: uma história sobre amamentação

março 19, 2018

Não tive grandes dúvidas nem receios em relação à amamentação. Não chegou a ser uma decisão para ser tomada, sempre foi um dado adquirido, de tão natural. Fui amamentada pela minha mãe (uns meses), tinha já 7 sobrinhos e todos eles foram amamentados (alguns poucos meses outros muitos meses).

Quando nasceu, a Olívia não quis logo mamar quando veio para o meu colo. Aos meus olhos, era tão bonita. Chorava muito. Já depois de vestida, ficou confortável a mamar (e a Terron tirou-nos uma fotografia muito bonita). Entretanto saímos da sala de partos. Ficámos pela primeira vez as duas sozinhas, num qualquer corredor, e é esse momento que guardo em mim. A Olívia a mamar, coladinha a mim, mãe e filha, para sempre. Muito amor em estado líquido :)


A miss O. cresceu e foi mamando. (Quase) sempre que quis. Em qualquer lugar. Em casa, em esplanadas, em festas de casamento, no rio, na praia.

Fomos assistindo às crias à nossa volta, que nasceram depois dela, irem pouco a pouco deixando de mamar. Algumas por iniciativa própria, outras por decisão da mãe. E a O. sempre a pedir mama. Primeiro "môa". Depois "mó". Depois "mama". Depois, "a outra mama".

Ao longo deste percurso, comecei a ter receios... Queria que fosse ela a decidir quando parar, que sentisse essa segurança. Mas o momento parecia nunca mais chegar. E na nossa rotina familiar, não havia maneira de a conseguir adormecer sem ser a mamar ou depois de mamar.

Houve alturas em que isso me pareceu espectacular! Lembro-me de um jantar com amigos... Não havia dramas nem problemas na hora de dormir. Havia uma maminha, depois a outra, e a Olívia adormecia naturalmente e feliz ao meu colo.

Houve alturas de desgaste. A fase do ano e meio foi tão crítica. Eu andava tão cansada. Ela parecia nunca ferrar realmente e, mal a deitava na cama dela, acordava e precisava de mais mama. Lá íamos nós para a minha cama, e adormecíamos juntas... Para depois acordarmos e dormirmos novamante, quinhentas mil vezes a meio da noite.

Houve uma altura (pouco depois dos dois anos) em que decidi que ela tinha que dormir o primeiro sono na cama dela. Com muita paciência e esforço (era bem mais difícil para mim, do que simplesmente levá-la para a minha cama!), consegui! Mama ao meu colo, ela adormecia, deitava-a no berço e ela ficava. Mesmo quando abria os olhos quando a deitava, já não lutava contra o berço, e simplesmente ficava lá, segura, a continuar a dormir. Passado umas horas (podia ser uma hora, o mais normal era serem três ou quatro horas. Tivemos duas noites em que dormiu umas 8 horas seguidas, iupi!!!), acordava, queria mama, e era raro eu ter energia para ser eu a ficar no quarto dela! Gosto muito de dormir :) Levava-a para a minha cama, maminha na cama, e adormecíamos...

Passou essa fase difícil, e continuámos.

No Verão em que fez 3 anos, comecei a sentir que a mama não iria durar muito mais. Pedi ao R. para nos tirar fotografias, pois achava que esta fase iria terminar rapidamente. Não que a Olívia estivesse menos interessada em mama... Mas comecei a sentir com alguma segurança que estava na hora de terminar! Mas sem pensar muito nisso...



As férias acabaram e voltámos para casa. Mama todos os dias para adormecer. Mama várias vezes por noite, todas as noites, como sempre. Mas tornaram-se raros os dias em que pedia mama mal chegava do infantário.

Comecei a sentir também algum desconforto depois de alguns minutos a amamentar, sensação que era nova. Quando acabava o leite mas a minha fera ainda queria continuar...

Aos meus olhos, a nossa história é feita de pequenos passos. Sempre me agarrei aos pequenos passos (que as pessoas à minha volta insistiam em não considerar). Fiquei feliz quando ela passou a dormir o primeiro sono na cama dela, sem dramas (mesmo que tivesse que a adormecer a mamar).  Fiquei feliz quando passou a aceitar uma caneca de leite já na cama, antes ou depois de mamar (mesmo que continuasse a precisar de uns minutos a mamar). Fiquei feliz quando, quase magicamente (e já com três anos e uns meses), passou a não pedir mama sempre que acordava a meio da noite (mesmo que tivesse fases em que continuava a pedir mama 5 ou 6 vezes por noite...).

Soube no final de Janeiro que tinha uma cria na barriga <3 Nessa fase, a Olívia mamava mesmo muito pouco (menos de um minuto em cada mama, entretanto o leite acabava e eu dizia-lhe que me magoava, que ela tinha que largar). Adormecíamos depois as duas na cama dela, muito abraçadinhas. Andámos umas semanas assim, entretanto houve uma e outra noite em que não pediu mama, depois voltava a pedir. Uma história feita de passos pequeninos. Falei com uma amiga também com uma história de anos de amamentação, que me sugeriu deixar a Olívia dar um beijinho na maminha antes de dormir, sem mamar. E esse beijinho tem sido a nossa história das últimas semanas. Primeiro um beijinho seguido de uma pega... Ultimamente só mesmo um beijinho. Nalgumas noites, nem um beijinho.

Esperei pelo fim da nossa história para publicar este texto. Foram várias as pesquisas que fiz na net, meia desesperada, sobre como adormecer uma criança que só queria dormir na mama. Li testemunhos horríveis. Quero deixar o meu testemunho (bonito), na esperança que possa ser útil a alguém.

Se algum dia equacionei amamentar tanto tempo? Nunca! Nunca! Nem sabia que manteria a produção de leite durante tanto tempo...

Na verdade, não interessa assim tanto se é a cria ou a progenitora a decidir acabar com a amamentação. Interessa que essa decisão seja o mais consciente e verdadeira possível. Falo não daquelas decisões ponderadas, mas daquelas decisões que sentimos com segurança e sem receios. Interessa que não seja uma decisão imposta pela sociedade!

Ontem, já na cama, a Olívia disse-me (quando na noite anterior tinha pedido mama para dormir): "mamã, eu já não vou mamar mais porque a mama agora é para o mano". Estamos no caminho certo, minha filha, e sinto-me tão bem por te ter deixado mamar ao teu ritmo, segundo as tuas necessidades: de alimento, de segurança, de conforto, de amor. Estamos no caminho certo. E se esta noite me voltares a pedir mama, ou daqui a um mês, ou quando vires um(a) mano(a) alapado no meu colo, não faz mal nenhum. Estamos no caminho certo.

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